background image
atitude
ciranda
do tempo
Por João Viégas Netto | Escritor
A
lgo me faz crer que
estamos sendo levados a
entender certos processos
e mecanismos próprios à existência
do ser humano de uma forma mais
contundente, assim como aqueles
que viveram na idade Média os
perceberam e sofreram suas ações.
há vinte e cinco anos, minha
cidade natal, Belo horizonte, era
considerada uma das melhores
cidades do país para se viver --
arborizada, com trânsito de bom a
ligeiramente obstruído nos horários
mais complicados, cordialidade,
bom comércio e entretenimento
típicos de um lugar cercado
de montanhas e atrações que
florescem à margem das trilhas da
estrada real. A vida costumava ser
bastante agradável com um toque
beirando ao bucólico. hoje, talvez,
se perguntarmos aos seus cidadãos
eles confessarão certo desagrado
e confusão típicos de quando se
eleva uma "cidade-roça" ao status
de metrópole. Acredito que muitas
cidades do Brasil estão sofrendo
esse tipo de mudança.
depois de termos evidenciado
as transformações de caráter
demográfico,
político
e
socioeconômico,
andamos
carecendo, e muito, de perceber
as
transformações
naturais,
psicossociais, sensoriais e de
comunicação. o século XXi corre
à velocidade de transmissão de
dados em fibra ótica e traz consigo
o rastro daquilo que foi vivenciado
pelo ser humano nos últimos
milênios, e a forma como ele tratou
cada nova percepção do mundo
culminou no que hoje vivemos e
somos.
"este é o século em que as pessoas se sentirão mais
empurradas a se fechar devido aos recursos disponíveis
na atualidade e, paradoxalmente, a sair de seus mundos
particulares e entrar no dos outros para somar."
Milhares de anos se passaram
e a coisa ficou preta, com força,
em alguns aspectos, mas não só
por que ele fez o que quis com o
planeta terra e com a informação
que lhe foi fornecida pela natureza,
mas, também, por não conseguir
perceber profundamente o que está
por trás das mensagens enviadas
por ela. Mas ao longo da história
da humanidade, e a cada grande
ciclo de tempo, surgiram mirradas
quantidades de mentes pensantes
preocupadas em trazer evolução
a todos, gênios dotados de uma
capacidade alucinante de pensar e
criar. porém, as estações e luas que
se seguiram nos mostraram como
nos perdemos e nos enroscamos ao
longo de nossa jornada.
o homem moderno se cercou
de tantos aparelhos, dispositivos,
meios de transporte, fazedores
disso ou daquilo que se esqueceu
de entender o porquê do uso de
todos esses aparatos. cada vez mais
entupidos de algo a fazer, estamos
consumidos pelo tempo, que se
tornou nosso inimigo e carrasco
maior, onde outrora fora amigo
daqueles que o enxergavam com
bons olhos e tornaram-se mais
sábios.
este é o século em que as pessoas se
sentirão mais empurradas a se fechar
devido aos recursos disponíveis na
atualidade e, paradoxalmente, a sair
de seus mundos particulares e entrar
no dos outros para somar. Mas, para
isso, o olhar, o jeito de pensar, falar
e agir precisa se requintar. A forma
de perceber o outro e o mundo
ao seu redor requer uma interação
mais refinada. A percepção como
forma de comunicação natural
com o ambiente que o cerca
foi esquecida, dando lugar ao
imediatismo e à necessidade do
consumo da informação rápida e
já multiprocessada, transformando
o Homo sapiens em Homo rapidis,
Homo doentis, Homo stressadis,
Homo tristis, cansadis, solitaris.
"Cacildis"! "para bom entendedor,
meia palavra basta." É tempo de
ação.